Cicatrizar... - .

20 julho 2022

Cicatrizar...

O tempo tudo cura, diz a minha mãe e o povo. Aceno que sim, mas queria acrescentar que deixa cicatrizes, às vezes fininhas, outras mais visíveis, as que doem com a mudança do tempo, as que escondemos com base...

 Não me importo com cicatrizes. Nem mesmo com as que são visíveis a olho nu. Tenho uma no queixo, por causa de uma rasteira passada pelo meu primo Gilberto, tenho várias nas mãos feitas por gatos, nas pernas uma enorme que me fez um mergulho mal calculado...

E há as outras cicatrizes.

A partida da Paulinha abalou-me e sei que de agora em diante, vou ser outra. 

Fui no sábado a Nelas- e o pensamento óbvio, tantas vezes que poderia ter ido e não fui.

 Ali, na terra dela, numa igreja em que estavam as pessoas que mais a amavam, agradeci tê-la encontrado e ter tido o privilégio de a acompanhar um bocadinho... A dignidade, o fazer ouvir-se a falar baixinho, a doçura, a importância dos laços...Que lição, Paulinha!

Claro que somos diferentes, querida Paula. E sei que me amavas assim: a meter-me em tudo, mais interventiva,  sempre a pensar no que fazer a seguir... Na amizade, como no amor, é bom sermos desiguais e vou continuar o caminho sendo esta que sou. E tu comigo- uma cicatriz bem desenhada que não esconderei.

Seremos a equipa perfeita (e aposto que agora sorriste).


Foto: Bruxelas, 10 de julho 2022. Estava serena, mas mais triste e nem sabia porquê. Apeteceu-me cores escuras e não quis fotografias. Mal mandado, o Luís apanhou-me assim.

1 comentário:

  1. Compreendo o teu testemunho. Tenho a ideia que cicatrizes são post-its a recordar acidentes.
    Pior são crostas aparentes a esconder feridas crónicas.

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