A amizade não se adia - .

11 julho 2022

A amizade não se adia


À Paula Alves , que me tornou uma pessoa melhor

💚

Sabem aquela amiga que lê sempre o que nós postamos, que põe um gosto, que manda mensagens, que fica contente com as nossas vitórias, que tem orgulho em nós? Tenho  sorte  de ter algumas assim- a Paulinha é uma delas. 

Não quero que este seja um post triste, quero que seja leve, sereno, doce e que vos faça esboçar um sorriso...tudo o que a Paulinha é.

E não me levem a mal se vos pedir para, em vez de escreverem aqui um comentário triste, mandarem uma mensagem a um amigo a quem já não dizem nada há muito tempo- tenho a certeza que a Paulinha apreciará o gesto (ou então, façam ambas as coisas). 

Conhecemo-nos num janeiro frio de 1990 em Viseu. Ambas com dezanove anos, eu de Dr. Martens nos pés, ela de mocassins pretos e camisa às risquinhas. Quem nos visse, pensaria quão improvável era a nossa amizade.

 Eu com a mania que sabia muito, que lia muitos livros, que morava no litoral, a falar mais do que a ouvir...A Paulinha calma, contemplação e serenidade.Eu a gozar com o sotaque dela e de como ela dizia "presidente"; ela a dizer que se eu era de perto do mar ainda iria acabar a vida a vender peixe (nunca se sabe, Paulinha!).

Líamos ambas a  revista Time e sentíamo-nos importantes por isso. Partilhámos desgostos de amor, amparámo-nos, dormi em casa dela e ela na minha, fomos colegas de estágio e por isso fizemos  a estrada Viseu-Nelas e Viseu-Carregal do Sal vezes sem conta no BMW vermelho do José Armando, nunca houve ciumeiras de notas, de nada- eu queria o melhor para ela e sentia que ela queria o mesmo para mim.

A vida afastou-nos fisicamente, mas nunca definitivamente.
Há pouco mais de um mês, ela ligou-me e senti-lhe a voz enfraquecida. Disse que não me poderia dizer, que não me queria entristecer, mas eu senti logo e ela confirmou-o: o seu corpo adoecia.

Encontramo-nos há quinze dias para um abraço que tardava. Trouxe-a o Paulo, a quem ela chamava marido-anjo. Ela queria ir a um sítio bonito e tranquilo, um lugar que eu gostasse. Levei-a à minha livraria preferida em Leiria e conversámos muito. Outras coisas nem dissemos, porque não foi preciso.

Fomos falando sempre, eu a dizer que a adorava, ela a dizer que eu era um amor. Falámos na quinta-feira e eu gabei-lhe a voz- estava mais forte, iria correr bem.
Não correu. E hoje, quando a tantos quilómetros de Nelas, soube que aí a choravam, revoltei-me, disse palavrões, chorei, busquei consolo no Luís, e na minha minha amiga Carla. 

Depois serenei- eu estava a fazer tudo o que ela não quereria, tudo o que ela não é.

Partiu a Paulinha, mas sinto-a mais viva do que nunca. Vive no coração de tantos a quem a sua doçura tocou,  tal como ela tocou a mim.

Sabes, Paulinha, hoje ainda não consigo... Dá-me só um bocadinho de tempo, mas mal chegue a Portugal, prometo, vou beber uma mini fresquinha e brindar a ti. 

Adoro-te para sempre!

(um beijo enorme para o Paulo, mãe, Rosa e irmãos, sobrinha Joana, Diogo e Martinho- que orgulho transparecia nas palavras da minha amiga sempre que vos referia).
Área de anexos

Sem comentários:

Enviar um comentário