Tenho a sorte de poder sair de Portugal com alguma
frequência e, sempre que viajo, costumo fazer o exercício de pensar como seria
viver na cidade X. Enumero as vantagens,
peso as desvantagens e sinto vontade de, mais dia menos dia, quando os filhos
mais crescidos estiverem, sair por mais
do que duas ou três semanas.
Este mês estive em
Bratislava pela quarta vez. Entre um Dobré ráno
[i]e
um Ďakuje[ii]m tentei fazer a minha vidinha como se eu
não estivesse apenas de visita. Fui aos mesmos
supermercados que os eslovacos vão, caminhei quilómetros nas pistas que
existem para o efeito, banhei-me nos lagos em vez de ir à praia, remexi
prateleiras nas lojas de roupa em segunda mão, tentei falar mais baixinho e
deliciei-me com o silêncio dos locais públicos (a cada dia me sabe melhor
entrar num sítio cheio de gente e não ouvir muito barulho).
Senti falta da minha cadela, dos meus familiares mais
próximos e de alguns amigos. Salivei por peixe que é muito caro em terras eslovacas,
queixei-me um bocadinho das altas temperaturas que se fizeram sentir e que me
fizeram transpirar tanto que pensei que fosse a menopausa a chegar!
Mas regressei à minha casa branca, onde moram os azulejos e a mobília
que escolhi, onde as divisões estão cheias de memórias… Quando eu absorta pensava que talvez não fosse infeliz se não tivesse regressado (desde que tivesse o Luís e os meus filhos
por perto), ouvi tocar a campainha.
Levantei-me um bocadinho a custo e fui abrir a porta. Do
outro lado, com um saquinho de feijão verde tenrinho acabado de apanhar na mão
e beijinhos repenicados para me oferecer, estava a Ti Joaquina- a melhor das
vizinhas- a saudar-me, a estender-me os braços, a dizer-me que todos os dias
olhava para a minha casa a ver se eu já voltara e, sem o saber, a fazer-me
compreender que o meu lugar (ainda) é nesta rua de dez casas onde moro.
[i] Bom dia
Entrei nesta assoalhada dei uma volta com os olhos de ler e concluí: que bem pintada está! Parece-me que já aqui estive...
ResponderEliminarTem perto e tem longe, afecto e aventura para quem sabe estar nas nuvens com os pés no chão.
E o segredo para isso é ter o querer guardado na mão.
Felicidades.