Nunca fui muito de me queixar e agora, enquanto assisto ao que se passa na Ucrânia e em que ando, como vocês, dormente, ainda o faço menos, quase como se me sentisse envergonhada ao ver tanto sofrimento espelhado nos rostos, ao imaginar o que nem sei imaginar, e não me fosse permitido andar de coração apertado, por aquilo que, perante tanta dor, sei que é pouco.
Mas tenho recebido mensagens, telefonemas a perguntar pelo Gonçalo e tive esta necessidade de vir aqui escrever de modo a tornar, também, mais leves, estes pensamentos que teimam em não me largar. Se não vos fizer sentido, podem parar aqui que prometo não me chatear.
Levar o Gonçalo ao aeroporto para ir para a Lituânia, não foi tarefa fácil. E, esta semana, a vontade que eu e o Luís tivemos, quando a Lituânia decretou Estado de Emergência, foi pedir-lhe que apanhasse um avião para Lisboa ou Bruxelas e viesse para casa.
Falámos-lhe no assunto, mas ele não vacilou e quis ficar. Está inscrito na Embaixada, tem contacto com ela (ainda hoje lhe telefonaram), tem ido a manifestações pela paz, não quer abandonar os amigos que já fez e diz-nos que está a viver uma experiência de vida que o enriquece a cada dia.
Aceitamos a decisão- como poderia ser de outra maneira?
É que as mães (e os pais) não têm sempre razão.
Se fosse pela minha mãe, em finais da década de oitenta, eu nunca teria saído de casa para ir estudar para fora.
Se fosse pela minha mãe, eu limitar-me-ia a tratar da casa e a dar as minhas aulas- para quê fazer voluntariado? para quê ter voz na política? para quê assumires cargos que só te dão trabalho?
Se fosse por mim, também, o Miguel nunca iria para a escola de bicicleta, não passaria os dias em treinos e jogos de futsal, não teria amigos que não conheço bem e o máximo, à uma da manhã, estaria em casa.
Se fosse por mim, também, o Gonçalo nunca andaria à noite em Lisboa, não faria viagens longas de carro a conduzir, não arriscaria tanto no que decide fazer.
Tenho, tal como os meus pais tiveram, vontade que os meus filhos se mantenham debaixo das minhas asas, mas quão mal lhes faria eu se assim fosse? É que ainda bem que eu não fiz sempre o que os meus pais quiseram. E ainda bem que os meus filhos não farão sempre o que eu quiser. Só assim a minha vida e a deles terá e fará sentido- o sentido que lhes quisermos dar.
Quanto ao que se passa na Ucrânia- ando a fazer o que posso, que é pouco. E sobre isso escreverei amanhã.
Imagino o seu coração apertadinho!
ResponderEliminarMuita força!