Viver a morte - .

16 novembro 2020

Viver a morte



" Sereno e em paz, o meu pai não me disse adeus, mas partiu. Rapidamente, em casa, rodeado por quem amava. Ainda não volvido um mês, sinto-me dormente, apardalada, mas recuso-me a sentir uma coitadinha.

A verdade é que eu sei que sou uma sortuda por ter tido um pai tão especial. Um pai que me marcou sempre hora de entrada até à meia-noite, mas que aos dezasseis anos permitiu que eu fizesse uma viagem de autocarro, sozinha, para ir conhecer França, o meu país natal; um pai que nunca me deixou ir a discotecas, mas que me incentivou a ir dez dias para Itália quando eu tinha dezassete anos; um pai que não foi além da quarta classe (tirada na tropa como ele gostava de dizer), mas que me deixou abrir asas para eu ir estudar para cento e oitenta quilómetros longe de casa; um pai que sempre me apoiou e amou incondicionalmente (e se eu fui uma filha que dei trabalho).

E é por isto e muito mais que eu, por mais sofrida que esteja, por mais saudades que já tenha, por mais lágrimas que chore, não me sinto infeliz. A gratidão e o amor que eu tenho é tanta que nunca deixariam que fosse de outra maneira."

Novembro 2013, Região de Leiria

1 comentário:

  1. .....Mesmo continuando presentes no coração, a verdade, é que um pouco [muito] de nós parte com eles. <3 <3 <3

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