Já o escrevi outras vezes- gosto de histórias de pessoas que se superam, que enfrentam a vida com sorrisos e generosidade, que não são famosas e nem receberão medalhas de mérito, mas que me inspiram a mudar e a ser mais.
Pessoas com aparência e vida perfeitas, com "Ai que eu sou tão bom e conduzo um carro tão caro", nunca me disseram nada. Já as pessoas com vida dentro e doçura acrescentam-me muito e quando assim é, gosto de partilhar as suas histórias.
O Ti Quim da Mata é uma dessas pessoas. Mora a três casas da casa que foi dos meus pais, tem o rosto tisnado pelo sol e apenas o seu corpo é seco, pois como se fosse um ovo mole de Aveiro, por dentro é cheio de doçura.
Já andava com este texto na cabeça há uns tempos, desde que no mês passado, enquanto passeávamos os quatro pelos pinhais perto de casa, o encontrámos a cavar um terreno quase limpo de mato. Passei por ele, cumprimentei-o ao longe, mas tive de voltar para trás.
O terreno dele era o único limpíssimo e sem um bocadinho de mato e perguntei-lhe se fora ele quem o limpara. Ele nem percebeu bem como era possível eu estar a perguntar se fora ele- "Pois claro que fora ele, quem haveria de ser? " e perante o meu olhar espantado acrescentou para me tranquilizar " Mas não foi tudo hoje...".
Ora eu, que mal me baixo para arrancar as ervas daninhas que invadem o jardim, que tenho laranjeiras com sede no quintal, que me queixo que o cabo do sacho me magoa as mãos, arregalei os olhos e perguntei-lhe a idade. " Faço noventa em agosto" respondeu-me o ti Quim com lágrimas nos olhos.
Despedi-me e guardei a imagem dele na cabeça e no meu coração pois sei que a hei-de ir buscar muitas vezes, quando eu me sentir mais frágil e precisar de ganhar força para enfrentar algum dia mais escuro.
O Ti Quim da Mata trabalhou a vida inteira, é base de mulher, filhos e netos, é generoso e quer pagar sempre um café ou uma bebida a toda a gente, pergunta sempre como estamos e nunca se esquece de nos desejar "saudinha! Perdeu um filho querido este ano, mas nem a dor profunda o azedou.
O Ti Quim anda de bicicleta em vez de carro, usa as roupas de sempre e um chapéu de palha quando está sol e não sabe que, mesmo não sabendo nada de Camões, de Pessoa ou de Sophia, ele é pura poesia e já é um dos Poemas da minha vida.
São estas pessoas que (também) de inspiram... e pessoas como tu que têm o dom (e a doçura) das palavras. São pessoas assim que me fazem crer que este mundo não está totalmente perdido e que a vida vale muito a pena. E que muitas vezes me fazem sentir pequenina… Parabéns. Beijinhos.
ResponderEliminarBeijinhos!
EliminarObrigada por leres.
Simplesmente lindo. Parabéns
EliminarFizeste-me lembrar outros ti Quins que já passaram pela minha vida e que recordo com tanta saudade...
ResponderEliminarTexto lindo!
Verdade. Há sempre Ti Quins para quem tiver vontade de os ver.
EliminarBeijinhos
Que maravilha! É sempre um prazer ler o que escreve.
ResponderEliminarObrigada pela partilha!
Um beijinho
Eu é que agradeço por estar aí desse lado.
EliminarBeijinhos
Ohhh já me emocionei, amei o teu texto!
ResponderEliminarHoje também deixei um texto no Bluestrass, da altura em que tínhamos tempo para fazer férias de outra maneira. Do tempo em que eu (adolescente) adorava visitar as "velhotas" pelo lugar acima e ouvir as histórias delas ou simplesmente as via a fazer crochet ou a bordar...
Beijos e abraços.
Sandra C.
bluestrass.blogspot.com
Tenho de ir ler. SOFIA
EliminarEstá mais que visto que os notáveis (não gosto da palavra herói que é uma coisa controversa e dava uma conversa longa) não são os que vão buscar a lata a Belém. Aliás, nem precisavam ir. Se já rejubilam e brilham à força de pano e solarina...
ResponderEliminarBeijo, Sofia.
Não poderíamos concordar com tudo:) Beijinhos!!!
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