Foto tirada no verão de 1985 e numa moldura que me acompanha desde então |
Provavelmente este post perder-se-á entre tanta partilha de momentos de hoje passados na praia, entre queixas sobre a Covid-19 que não parece dar tréguas, entre fotos que atestam altas temperaturas, notícias de última hora e entre o tanto e o pouco que faz a vida acontecer.
Falamos tanto na vida, não é? Será para esquecermos a morte que é, como sempre me lembro de ouvir, a única certeza da vida? Talvez seja porque assim tem mesmo de ser.
Hoje, na rotina dos dias, ao limpar o pó, deparei-me com um anjo que comprei a um artesão numa aldeia da Eslováquia e tive vontade de escrever sobre morte. Não sei ainda o que sairá sobre este tema tão duro (o mais duro) e sei que não escreverei nada de importante sobre a inimaginável dor dos pais em luto, mas às vezes parece que os textos têm vontade própria...
A primeira morte que me marcou seriamente foi a do meu primo Márito. Eu tinha dezasseis anos, éramos vizinhos e ele tinha menos um ano do que eu. Uma leucemia levou-o numa altura em que ainda se receava falar da palavra cancro . Sempre tive pudor de falar do que sofri na altura, porque eu nunca até então vira uma dor tão grande espelhada nos olhos de alguém como vi nos seus pais e soube logo que a minha dor era ínfima perto da deles.
Esta semana partiu o João Pedro. Atleta, amigo de todos, num ápice foi embora sem sequer ter tido oportunidade de lutar; e a concretizar o maior pesadelo que assombra a nossa mente quando temos um filho " E se...".
Infelizmente, conheço vários pais que perderam filhos e tenho por eles uma admiração sem limites. Não imagino a dor, não sei como sobrevivem, mas acredito que o fazem, também, pelos seus meninos-anjos que partiram- são verdadeiros pais-heróis sem nunca o quererem ter sido.
É raro o dia em que não pense nas mães que conheço pessoalmente e que perderam os seus meninos; rezo sempre para que uma brisa de conforto as ajude a aliviar um pouco a dor de uma ferida que dificilmente cicatrizará. Não há maior dor, diz o povo. E eu acredito.
Escrevi quatro parágrafos e parece que não disse nada... Deixem-me então socorrer-me das palavras do escritor Luís Osório - "a dor ficará sempre para um dos poucos estados para o qual nem sequer existem palavras. Acredito que se pode mitigar, tornar o horror suportável. O apaziguamento depois da morte de um filho só pode ser conquistado quando a dor se torna outra vez viva, uma celebração da vida e, dessa maneira, uma celebração da memória viva de quem partiu".
Um abraço enorme para a família e amigos do João Pedro; um mais apertado para os pais.
Escreveste...
ResponderEliminarMas fala mais o que sentiste
Por isso a mão escreveu
o que o coração te disse
Bj, Sofia.
É uma dor imensa perder um familiar, quando se trata de crianças a dor deve ser inimaginável... vivi de perto a perda de um filho de uns amigos também com uma leucemia e foram momentos terríveis...
ResponderEliminarBeijos e abraços.
Sandra C.
Bluestrass