Durante muito tempo contei os anos que faltavam para fazer a Festa do Sagrado. Explicando um pouco melhor, diz a tradição da minha terra que quem chegar aos cinquenta anos e tenha nascido ou resida na freguesia de Maceira, faz a festa.
Eu não sei como é nas vossas terras, mas na minha as pessoas dão o seu melhor para fazer a mais bonita das festas. É escolhida uma cor, enfeitam-se andores, mandam-se fazer t-shirts e polos com o símbolo e tiram-se férias para se poder trabalhar na preparação dos cinco dias em que dura a Festa do Sagrado Coração de Jesus.
Este ano, os nascidos em 1972 prepararam uma festa muito bonita e o meu grupo de 70, tal como os de outros anos, juntou-se de novo no arraial ao lado da Igreja Paroquial de Maceira. Saí desse dia de setembro a correr da escola, vesti o meu polo laranja e fui ter com aqueles que têm envelhecido comigo.
O meu grupo, devido à pandemia, não fez a festa, mas vivemo-la de cada vez que nos encontramos. Na verdade, somos todos muito diferentes uns dos outros, mas quando o encontro se dá, temos todos catorze anos outra vez, cantamos alto o Summer of 69 do Bryan Adams como se estivéssemos no Altice Arena, converso com pessoas que vejo menos do que gostaria, danço músicas que não estão na minha playlist e o "pequeno milagre" do colo acontece.
Voltámos este ano e de novo o "pequeno milagre" me aconteceu. Vivendo numa aldeia de Maceira e dando aulas na escola da minha terra há vinte e cinco anos, sinto muitas vezes necessidade de me apagar. No entanto, é com os que nasceram em 1970 que tudo acontece- com eles eu deixo de ser a professora Sofia, a única dor que tenho é a de barriga de tanto me rir e sou apenas (e sou tanto) a "Sofia do nosso ano".
Gosto de ir, de descobrir novas terras, sinto muitas vezes que poderia viver noutro lugar, mas quando as Festas do Sagrado acontecem, se eu me procurar, descubro que tenho sempre um lugar para onde voltar.
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