Desde a pandemia, o banco começou a esvaziar-se. E há dias ficou ainda mais vazio.
A Covid tem roubado vidas, mas não só. Rouba abraços, oportunidades de consolar os que choram a partida dos seus queridos, empregos, a nossa sanidade até... Seria bom é que não nos tirasse a capacidade de sermos mais empáticos com os que sofrem e que nos fizesse andar mais devagar e prestar atenção ao que importa.
Eu explico onde quero chegar.
Há uns dois anos talvez, ofereci um boné vermelho que tinha em casa ao João, mais de setenta anos, benfiquista assumido que quase todos os dias se sentava no banco. Rara era a vez que o via e ele não estava com o boné...Eu já comentara com a minha mãe que o boné já acusava muito uso e que gostaria de lhe oferecer um original do Benfica.
Fui ao armário do Miguel, mas como o que ele tinha a mais era de criança, ponderei pedir um amigo que adivinhava que arranjasse e pensei mesmo em comprar. Adivinham o que vem a seguir, não é?
A correria dos dias e o "tanto para fazer" fez-me esquecer de perguntar ao meu amigo e acabei por não procurar o boné do Benfica em lojas. Fui-me lembrando e esquecendo, lembrando e esquecendo de novo e agora lembro-me todos os dias.
A Covid levou o João e eu deixei passar a oportunidade de fazer algo que realmente me iria acrescentar e fazer feliz. A culpa de eu ter deixado passar a oportunidade não foi da pandemia, mas viver nestes dias escuros parece que reforça mais a lição.
Que eu não esqueça.
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