O meu pai sempre disse que eu era um vidrinho. Queria ele dizer que as lágrimas
me saltavam facilmente, que ninguém me podia dizer nada, que se me falassem com
um tom de voz mais brusco, lá vinham as grossas lágrimas encherem-me os olhos.
Até há uns tempos era assim. Agora
as lágrimas continuam a soltar-se, mas é quase sempre por motivos bons, porque
me dizem algo bonito, porque leio algo que me faz pele de galinha, porque
recebo um abraço mais apertado ou um apertar de mãos caloroso.
Talvez eu fosse um vidro cristal,
sem muita resistência, que se partisse ao menor abalo e seja agora um vidro temperado que recebeu um
tratamento térmico ou químico que o tenha tornado mais durável e com maior resistência mecânica.
Dizem os entendidos que o vidro temperado, quando quebra, em vez de se
estilhaçar em bocados cortantes, reduz-se a pequenos fragmentos e é, por isso,
mais seguro. Talvez eu seja isso agora- um vidro temperado!
Quanto ao tratamento térmico que recebi foi a vida que mo foi
dando, fazendo com que o vidro de que sou feita não estilhace à menor
agitação. É da idade dizem-me. E eu acredito e sei que, certamente, o meu pai se orgulhará do vidro de que agora eu sou feita.
Gostei do temperado, e o Ti Manel estariam certamente muito orgulhoso, mas acredita que tal como eu ainda veria em ti o seu vidrinho de cristal. Os mais novos precisam sempre do nosso papel bolha.
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