Escrevo todos os meses para um jornal da minha terra. No mês de maio, saiu este texto. Deixo-o aqui, para as minhas leitoras mais novas que, por vezes, pensam que sabem muito. E para as mães que (como eu) lidam com adolescentes. E para todas as filhas...
Paris, 1985- com a mania que tinha estilo e que sabia tudo- mas tão insegura, afinal... |
A
filha da mãe que eu fui
Lamento
muitas vezes a filha que eu fui. Difícil, com a mania que sabia tudo. Nunca me
esqueci de como eu, adolescente rebelde, testava a minha mãe até aos limites,
de como eu me achava superior porque a minha mãe não lia livros, de como eu não
percebia como poderia a minha mãe ter tão pouca roupa no armário, de eu pensar
que sabia muito mais do que ela...
Envergonho-me,
confesso, da filha ingrata que eu fui por vezes. Contudo, e mais ou menos na altura
em que fui mãe (penso que isto acontece a muitas mulheres), o clique fez-se.
Hoje sei
que a minha mãe, mesmo tendo apenas a 3ª classe incompleta, sabia muito mais da
vida do que eu. Corrijo: eu não sabia quase nada.
Olhando
para trás, lembro a minha mãe-formiguinha-trabalhadora para que nada me faltasse, recordo a generosidade com os
outros, os seus conselhos e ensinamentos e
dou por mim a tentar, muitas vezes, ser como ela. Hoje, a minha mãe já não tem
a energia de outrora, mas continua a ser um exemplo de vida para mim e para a
minha irmã, ainda faz as melhores omeletes da zona, serve-as no café da
família e continua a trabalhar sem queixumes.
Já há
anos que a nossa relação é outra. Agora, tento que não passe um dia sequer sem
que eu a veja, conto-lhe da minha vida, é a pessoa que eu mais ouço e até
sorrio quando ela diz para os meus filhos “a
tua mãe não sabe!”, enquanto lhes serve um prato de
salsichas bem fritas, com ovo estrelado e batatas fritas.
Por
vezes, gostava de a abraçar mais, de lhe dar mais mimos, mas demonstrações
de afecto como beijinhos e abraços não são fáceis para a minha mãe, talvez
porque nunca os teve em demasia... Contudo, eu sei que a sopa sem batata que
ela me faz, os legumes que me prepara tantas e tantas vezes, estão impregnados
de amor e carinho e são os beijos que ela tem dificuldade em dar.
Fui a
tempo e a filha da mãe que eu fui já não existe. Hoje, rezo todos os dias para
que Deus ma conserve assim: trabalhadora, sem medos de dizer o que pensa, amiga
do seu amigo, generosa, dona do seu nariz, sempre presente, uma verdadeira mãe.
Sei também
que a minha mãe já perdoou a filha que eu fui (as mães perdoam
sempre os filhos, não é?). Quanto a mim, faço tudo para que aquela filha de nariz
empinado não volte mais.
Que palavras tão bonitas!
ResponderEliminarDe certeza que a sua mãe tem muito orgulho na filha e mãe que hoje é! ;)
Beijinho
Cris
www.lima-limao.pt
Não somos todas assim, quando somos mais novas? Sem ter a noção que tudo que estamos a passar, as nossas mães já passaram.. que elas nos querem bem e que tem sempre palavras sábias? :)
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Humildade em cada palavra Sofia! Quantas vezes se pensa que se sabe tudo quando na verdade nada se sabe... Ja dizia um sábio pensador: "So sei que nada sei". ;)
ResponderEliminarMuito bonito o texto. :)
ResponderEliminarBeijinhos
Que sorte a tua Mãe ter uma fikha como tu! Bj
ResponderEliminarPalavras sinceras e pro isso tão bonita.
ResponderEliminarBeijinho Sofia.
Paula
Vida de Mulher aos 40
Que bonita homenagem.
ResponderEliminarUm texto de gratidão muito bonito.Bj
ResponderEliminarTexto muito bonito.
ResponderEliminarbjs
SJ