Envelhecer - o segredo
O título é, talvez, enganador. Vem a
propósito de eu ter feito anos há pouco tempo, e de me ter dado conta, meia
apalermada, que faltam três anos para eu ser festeira do Sagrado Coração de
Jesus (para quem não sabe é quando os habitantes da Maceira fazem cinquenta
anos).
Apesar de na minha cabeça eu ainda ter a
mania que tenho, no máximo, trinta e cinco anos, noto que os anos passaram quando reparo
que o tema de muitas conversas com os meus amigos passa agora por falar da dor
aqui e ali, de lares e casas de repouso, das maleitas dos pais, dos exames
médicos com nomes difíceis de pronunciar. Conversas sobre jardins de infância,
sobre a terrível fase das birras, sobre pediatras e afins? Só se for sobre os
netos dos meus amigos.
Por vezes comparo a vida a um jogo de futebol e, apesar de a morte ser
certa e de ninguém saber quando chega, dou por mim a fazer contas de cabeça: se
eu chegar aos oitenta anos, tenho mais X de anos pela frente. Tenho então
consciência de que já estou no segundo tempo do jogo, com o tempo a correr cada
vez mais veloz, a escorrer-me por entre as mãos…E em campo estou eu, uma miúda desajeitada, a tentar marcar golos, com um árbitro, inclemente, a olhar para o
relógio e a dizer que já falta menos tempo do que aquele que já vivi para dar,
sei-o certo, o apito final.
Assumo então que me custa envelhecer, mas o que realmente me preocupa e me causa um aperto no peito é ver
envelhecer os que mais amo. É impossível
olhá-los sem me emocionar: rostos que sempre conheci, que sempre estiveram ao
meu lado, que me apoiam incondicionalmente e que estão a envelhecer tão
depressa... Conheço a história de vida por detrás de cada sorriso,
sei os momentos difíceis que viveram (e que vivem) e não consigo de deixar de
fazer contas de cabeça também para eles…
Já viveram determinados anos, se viverem até aos X anos, ainda têm Y anos para
viverem…Pois, a história do jogo de futebol é para todos e o árbitro da vida
não distingue, sexos, credos, raças ou posições sociais.
No processo de envelhecer, o mais difícil mesmo é ver partir e aceitar a
morte dos que amo. Quanto aos cabelos
brancos a atacarem em força a minha outrora farta cabeleira, quanto às rugas a
não darem tréguas? Desvalorizo, pinto o cabelo, besunto-me com cremes e ando a
aprender a não me importar. Só este me parece ser o caminho certo. Como ouvi há
dias numa série: "Envelhecer é lixado, mas a alternativa é bem
pior!"
Parabens pela publicacao do artigo Sofia.
ResponderEliminarObrigada, Sami:)
EliminarBeijinhos
Sofia pode não acreditar mas caíram-me as lágrimas.
ResponderEliminarSabe eu tenho 32 anos, mas sou a mais nova de 5 irmãos. Os meus pais já não são nada novos e a saúde não é das melhores. Então, eu ainda não tenho filhos, mas as minhas conversas já só são sobre maleitas dos pais e tentativas de solução.
E o que custa vê-los a envelhecer? ...
Pois é...O melhor é estimá-los bem enquanto os temos. Abraço apertadinho...
EliminarNão adianta dar uso à aritmética elementar para tentar perceber a erosão que a passagem do tempo provoca no casco humano. Basta olhar para o espelho. Melhor, mais convincente, é pegar numa fotografia com 10, 5, 4, 3, 2 anos. O intervalo de aferição vai-se reduzindo à medida que a idade avança.
ResponderEliminarBj.
E quando é que tu começas a escrever para um jornal? Escreves tão bem!
EliminarObrigada por estares aí.
Beijinhos
Escŕeve tão bem Sofia!
ResponderEliminarEu já conto 36 e, apesar de estar contente com a imagem que vejo no espelho, continuo com medo de
envelhecer. Os que me deram a vida, os que me viram crescer, os que me criaram, os que me ensinaram a levantar quando caí...todos eles envelhecem e eu não quero perde-los. O meu problema é esse, lidar com a perda.
Pode ser que com o tempo aprenda, espero mesmo que sim.
Beijinhos,
Cristina.
Eu acredito que os entes que perdemos vivem em nós. melhor, faço por isso, embora seja difícil.
ResponderEliminarBeijinhos grandes e obrigada por me ler.