Ontem, falava eu com uma das melhores pessoas e professoras que eu conheço, minha Coordenadora de Departamento há muitos anos, e eu dizia-lhe que não gosto muito de escrever no meu blogue sobre a minha profissão. E, contudo, é na escola que passo muitas das horas do meu dia, em casa passo muito do meu tempo com trabalho e, por mais que eu tente, à noite quando me deito, a escola ocupa também muito dos meus pensamentos.
O meu blogue é como se fosse um espaço onde posso falar do que eu sou, da forma como tento encarar a vida, do meu lado mais "coquete", é um espaço onde tento que a mulher que eu sou não se misture muito com a Stora Sofia, ou DT, ou Teacher...como passo tantas horas a ser chamada.
E, no entanto, hoje, dia que não tenho aulas e estou prestes a terminar mais um ano letivo (mas ainda falta), sinto vontade de escrever sobre o que eu faço...
Sou professora há vinte e quatro anos e gosto muito de ser professora. Terminei o curso com boa nota, fiquei efetiva no primeiro ano em que concorri (outros tempos), leciono na mesma escola há vinte anos e a cinco minutos de casa ( sou uma sortuda), estou no terceiro escalão (são dez), ganho mais do que a maioria das mulheres que me rodeia, mas menos do que pensaria ganhar quando concorri, como primeira opção, para um curso que me permitisse ensinar.
Eu sei o nome de quase todos os que foram meus alunos (quando os cumprimento pelo nome já notei alguns olhares de espanto), tento nunca desistir dos alunos mais fracos, procuro ser justa, não me consigo desligar da vida pessoal de uma criança e focar-me apenas nos resultados, tento motivá-los, ser disponível, esforço-me para ensinar o melhor que sou capaz... Mas não sou perfeita.
Dou por mim a repetir as mesmas frases de aviso vezes sem conta, às vezes comparo as turmas e sei que eles detestam (a turma X vai mais adiantada na matéria), já fui injusta muitas vezes e chamei a atenção de quem não devia, já disse palavras que magoam, já me arrependi por não ter agido da melhor maneira...
Nestes mais de vinte anos, vi perder muito do prestígio que a profissão tinha, perdi poder de compra, já passei por muitas reformas no ensino, vi cada governo tomar opções diferentes sem avaliar convenientemente o que foi feito, já fiz greve muitas vezes, já participei em manifestações, já me zanguei por ter que preencher tantos documentos... E, no entanto, vinte e quatro anos depois,continuo a sentir-me professora e a gostar de o ser.
Agora, se eu voltasse a 1989 e concorresse de novo, se voltaria a colocar um curso de ensino em primeiro lugar...Bem, isso são outros assuntos.
E a verdade é que, se nós soubéssemos o que se passaria antes de fazermos opções, a vida, tenho quase a certeza, não teria metade da graça.
Uma das profissões que mais admiro!
ResponderEliminarUma profissao admiravel e pelo que vejo os alunos (e ate muitos Pais) nao tem respeito pelas pessoas que tanto tempo passam a ensina-los.
ResponderEliminarDeveria ser uma profissao muito bem paga mas pelos vistos nao e!
Há dias li uma entrevista de um alto quadro da Bosh que declarava nunca ter desempenhado funções correspondentes à sua vocação e curso académico (mecânica). Faz-se o trabalho que aparece e que tem de ser feito, declarou. O certo é que atingiu um patamar do topo. Ninguém fique à espera do emprego ideal, acrescentava.
ResponderEliminarSer professor é uma profissão de prestígio, que está em perda há décadas; a sociedade, de uma forma geral, não sabe apreciar devidamente o seu trabalho.
Bj.