Santuário de Fátima, agosto de 1972 |
Lamento muitas vezes a filha que eu fui. Difícil, rebelde, com a mania que sabia tudo.Nunca me esqueci de como eu testava a minha mãe até aos limites, de eu me achar superior porque a minha mãe não lia, de como eu não percebia como poderia a minha mãe ter tão pouca roupa no armário, de eu pensar que sabia muito mais que ela.
Envergonho-me, confesso, da filha ingrata que eu fui.Contudo, e mais ou menos na altura em que fui mãe (penso que isto acontece a muitas), o clique fez-se.
Hoje sei que a minha mãe, mesmo tendo apenas a 3ª classe incompleta, sabia muito mais da vida do que eu. Corrijo: eu não sabia nada.
Olhando para trás, lembro a minha mãe-formiguinha- trabalhadora para que nada faltasse, recordo a generosidade com os outros, os conselhos e ensinamentos e dou por mim a tentar, muitas vezes, ser como ela.
Fui a tempo. Já há anos que a nossa relação é outra. Agora, tento mimá-la eu (muito menos do que devia), conto-lhe da minha vida, ouço-a e dou-lhe beijinhos mesmo quando ela me quer fugir. Demonstrações de afecto como beijinhos e abraços não são fáceis para a minha mãe, talvez porque nunca os teve...Mas hoje eu sei que a sopa sem batata que ela me faz, os legumes que me prepara tantas e tantas vezes, estão impregnados de amor e carinho...são os beijos que ela tem dificuldade em dar.
Fui a tempo, repito. Melhor, fomos a tempo. Rezo todos os dias para que Deus ma conserve assim: trabalhadora, sem medos de dizer o que pensa, amiga do seu amigo, generosa, dona do seu nariz, sempre presente, uma verdadeira mãe.
Sei que a minha mãe já perdoou a filha que eu fui . Eu tudo faço e farei para que ela não volte mais.
Texto bem bonito. Sim, quando somos mães, tudo muda...
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O Amor, Sensibilidade, Honestidade, Humildade, Simplicidade, Gratidão... são valores que te caraterizam, Sofia.
ResponderEliminarParabéns para a tua Mãe e para a Filha/Mãe que és.
Beijinhos, Adelaide
Todos o foram todos o são
ResponderEliminarUns a têm (sempre) outros não
Bj.