De vez em quando pedem-me para escrever para o jornal da zona onde vivo.O último texto que escrevi é um ínfimo contributo para que as mulheres que me rodeiam exijam mais de quem com elas partilha a vida. Para quem tiver curiosidade de ler...
O seu marido até ajuda? Mude o verbo, por favor!
Morando eu numa aldeia, assisti a mudanças fantásticas
nestes últimos quarenta anos. Sou do tempo em que as netas lavavam, à noite, os
pés ao avô e o meu pai nunca arranjou a sua própria roupa para vestir. Era a
minha mãe, irmã ou eu. Eu confesso que gostava: preparava as meias, calças, perdia
imenso tempo a ver a camisa que ficava melhor e depois deixava tudo bem
preparado, em cima da cama, para ele vestir. Naquele tempo, as
tarefas estavam bem definidas e homem houvesse que se atrevesse a fazer algo
considerado mais feminino, receberia certamente uma alcunha ou era olhado de lado
pelos seus pares.
Felizmente, tenho assistido a muitas mudanças. A maioria dos
homens aprendeu que pôr roupa a lavar não é assim tão difícil, muitos descobriram
o gosto pela cozinha, alguns até se gabam de ajudar a mulher. E era
precisamente aí que eu queria chegar: é que grande parte dos homens ainda estão
na fase de ajudar. Falta agora o mais difícil: partilhar as tarefas efectivamente. Quem chegar primeiro a casa faz
e ponto final. Afinal, onde é que está escrito que, por sermos do sexo feminino,
temos mais apetência para, mal acabamos o trabalho, começarmos um segundo em
casa: decidir o jantar, dar banhos a filhos, tratar dos nossos idosos, apanhar
a roupa e pôr roupa a lavar?
Confesso, contudo, que acredito que nós, homens e mulheres
vamos um dia conjugar juntos o verbo partilhar. Devagarinho, mas vamos. Na
minha aldeia já existem homens que ficam em casa a tomar conta dos netos bebés
e assumem-no com orgulho (impensável há uns anos), cada vez vejo mais homens às
compras nos supermercados, a educação dos filhos está a ser cada vez mais uma
tarefa partilhada (embora a grande maioria dos encarregados de educação sejam
mulheres) e os homens envolvem-se cada vez mais nas tarefas do lar.
Diz o poeta que todo
o mundo é composto de mudança e eu acredito. As mudanças levam tempo, mas um
dia vão aparecer. Aí já não vamos ouvir mais a
frase “o meu marido até que me ajuda”. Quanto a mim garanto-vos que, por
mais saudades que eu tenha de preparar a roupa ao meu pai, ficarei imensamente
feliz.
Jornal Maceira à Letra, fevereiro 2017
Muito bem escrito e estou totalmente de acordo com o que diz. Acho importantíssimo partilhar as tarefas, afinal na maior parte das casas o casal trabalha fora de casa. Então, quando chegam ao fim do dia, porque tem que ficar a outra parte do trabalho apenas para a mulher? Beijinho Sofia.
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