A propósito dos 500 anos da freguesia de Maceira, que é a minha, escrevi este texto para o semanário Região de Leiria. Não pensem que eu sou triste ou que penso demasiado na morte. Mas quem me conhece sabe que quem está no texto sou eu.
O lugar onde repousarei
Nasci em França e vim quatro anos depois, no ano da
liberdade, para Maceira. Desde cedo que me lembro de acrescentar ao nome da
minha terra as palavras “a terra da fábrica de cimento”. Aliás, a fábrica de
cimento está profundamente ligada às minhas memórias. Como esquecer os telhados
cinzentos que a rodeavam? Como posso não recordar o dia 1 de maio em que eu me
reunia com todas as crianças da freguesia na Casa de Pessoal? Como omitir que
foi aí que vi o primeiro filme, assisti à primeira peça de teatro e soube o que
eram jogos tradicionais?
Mais tarde, aos dez anos, descobri a cidade. Maravilhei-me
com os elevadores, com as pastelarias, com a liberdade que Leiria me
proporcionava. E contudo, sempre fui da Maceira. Lembro até, alguma
desconfiança de certos professores que nos olhavam como se fossemos de um outro
planeta. E éramos, mesmo sem saber.
Tenho quarenta e seis anos, continuo a morar numa aldeia de
Maceira, os meus filhos frequentam desde sempre as escolas da freguesia, canto num
coro que faz das minhas terças à noite um dia mais feliz, faço parte, com muito
orgulho, da direcção da Academia Cultural e Social de Maceira, sou professora
há vinte anos - e continuo a gostar muito - na Escola Básica Henrique Sommer.
Maceira a mais, dirão alguns. E não te fartas?- perguntarão outros. A resposta está na ponta
da língua: não. Gosto desta terra que é minha e de tantos, que tem localidades
que disputam o torneio de futsal aos gritos, mas que depois se juntam nas
Festas da Vila com pazes feitas, que se unem para festejar as festas do Sagrado
Coração de Jesus até às tantas da madrugada, que recebem quem vem de fora com
alegria, que tem avós homens que ficam em casa a cuidar dos netos enquanto os
filhos e as mulheres trabalham, que tem tanta gente empreendedora e especial.
Gosto desta minha terra e por isso é que o título deste
texto, mesmo parecendo sombrio, o não é. Sei que a morte faz parte da vida e
que não é por nos assustarmos que ela se afasta. E, já que não escolhi o sítio
onde nasci, desejo poder escolher onde repousarei… Eu quero ficar perto dos
meus, aconchegada nas minhas raízes. Porque eu sei de onde sou e quero ficar onde
pertenço.
Faz todo o sentido, o título :)
ResponderEliminarOpinião nunca é imparcial, não é Sofia?
ResponderEliminarUm texto bonito e bem construído que reflete o sentimento de pertença à comunidade maceirense.
Contudo, parece-me haver, na realidade, um crónico problema de dispersão e fragmentação da Freguesia que tem impossibilitado um caminho mais proveitoso só alcançável com a união das partes. Com ambição.
Bom domingo.
É com muita pena que sentimos essas raízes e esses sintomas de posse se esvaziarem e perderem significado, quando assistimos todos os anos ao encerramento de escola primárias, onde durante tantos anos se perpetuou e valorizou a origem e pertença de um grupo...
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