A minha relação com o meu pai sempre foi boa, mas demasiado
cerimoniosa. Há uns tempos, desde que a fragilidade dele foi aumentando, que
nos temos aproximado mais, mas sempre foi difícil para ambos mostrarmos os
nossos sentimentos em relação um ao outro. No primeiro AVC que ele sofreu com
sessenta e oito anos, ele implorou aos médicos e bombeiros que me me deixassem
acompanhá-lo. Começava aí outra etapa da nossa relação.
Até aí ele sempre tinha tomado conta de mim, tentando
proteger-me de tudo e todos( tarefa nem sempre bem conseguida, graças a Deus) e sempre me ajudou em tudo. A partir daquele
dia, fui eu que comecei a protege-lo, a dar-lhe forças, a contrariá-lo quando
ele diz que é melhor morrer. E foi também a partir desse dia que eu comecei a forçar-me a
beija-lo mais vezes, porque, inacreditavelmente, eu sempre tive vergonha de
beijar espontaneamente o meu pai.
Hoje, foi mais uma etapa, dolorosa, mas cheia de magia. A minha
mãe, que é quem mais cuida do meu pai, não conseguia ela mover-se e a minha
irmã (que é uma ajuda preciosa na minha/nossa vida) também estava ausente. Quer
isto dizer que tive eu de fazer sozinha a higiene ao meu pai (poupo-vos os pormenores), vesti-lo e sentá-lo
corretamente no cadeirão onde habitualmente repousa. Isto sempre sob o olhar e os
palpites de Sra Dona Matilde, minha mãe, que ia dizendo “ Não é assim, Sofia”, “
Faz antes assim, Sofia”, “ Calça-o primeiro”, “Limpa-o antes assim”, etc e tal.
Eu respirei fundo e tive a coragem de dizer baixinho “ Ó mãe, cala-te só um
bocadinho”.
No final, a tarefa foi superada e o Sr.Manuel, meu pai, ficou bem instalado no
seu repouso de sempre. Nessa altura, eu ajoelhei-me e disse-lhe, quase como digo
aos meus filhos, “ Ó Pai, portaste-te tão bem!”. E foi então que eu e o meu pai nos abraçamos com força,
espontaneamente, pela primeira vez. Beijamo-nos
na face, olhamo-nos com os nossos olhos marejados de lágrimas e soubemos que
tínhamos acabado de viver um momento que nos marcaria para sempre.
E foi também hoje, aos quarenta e dois anos e meio, que eu, Sofia, a
antiga menina do papá, perdi a vergonha de o beijar.
Conseguiste emocionar-me com este relato. A minha relação com o meu pai é muito semelhante àquela que tinhas, um pouco cerimoniosa até, só espero conseguir alterar esta relação doutra forma, que não por motivo de doença.
ResponderEliminarBeijo grande.
Fiquei com uma lágrima no canto do olho...
ResponderEliminarUm beijinho
Fiquei com uma lágrima no canto do olho...
ResponderEliminarUm beijinho
Parabéns amiga ... leio o teu texto e também estou de lágrima no olho. Quem me dera poder fazer o mesmo ao meu ... beijocas!
ResponderEliminarVamos sempre a tempo!
ResponderEliminarJá me fizeste ficar de lágrimas nos olhos, tenho saudades do meu pai, mas está tão longe...
ResponderEliminarProva superada. A vida pode sempre surpreerder-nos.
beijinhos**
O teu texto emana muita paz. Obrigada por partilhares.
ResponderEliminarnunca deixe de dizer a pessoa amada"eu amo-te", nunca tenha vergonha de dar um beijinho em que você ama. Nunca tenha vergonha de amar!!
ResponderEliminarEmocionei... sempre a tempo, sem dúvida!
ResponderEliminarNunca é tarde. Fizeste-me chorar, não consegui conter as lagrimas. Eu que tão poucas vezes abraço o meu pai...
ResponderEliminarObrigada por partilhares, amanhã já me lembrarei de o abraçar.
Sofia...tocaste-me tão profundamente, a minha relação com o meu pai nunca foi a melhor, mas eu amo-o profundamente, e penso que faria tudo por ele...
ResponderEliminarObrigada por me fazeres ver
Compreendo-te tão bem Sofia! E lá está: mais vale tarde do que nunca!
ResponderEliminarEu já lhe dediquei aqui alguns "piropos" respeitosos, mas de quando em vez vejo-me forçado a repeti-lo.
ResponderEliminarA Sofia é mesmo "Gira" aos 40!...
E sabe que mais, há quem diga que os olhos são o espelho da alma, e os seus olhos e a expressão do seu olhar são muito bonitos...
Desejo-lho um Natal com saúde para todos os que ama e carregado de afetos e da ternura que o seu olhar deixa transparecer...
PS: Cada vez tenho menos tempo e vontade para blogs, mas apesar de homem, dou comigo a visitá-la porque gfaz bem aessa sua energia positiva e o seus conceitos de vida e familia... É bom saber que não estamos sós nessa forma de ver o mundo... Admiro a forma elegante, feminina, sensivel e inteligente como se expõe. Claramente uma Senhora (o computador não tem esses maiores que o que usei).
;)
Tenho muitas lágrimas nos cantos dos olhos...gostava de ter cá o meu para o abraçar.
ResponderEliminarChorei ao ler este post... Principalmente porque desde os 15 anos que faço isso com a minha mãe... Tenho 20 anos e às vezes penso que já vivi mais que muitas pessoas bem mais velhas. Não é nenhum ataque! Desejo-lhe as maiores felicidades e para o a sua família também!
ResponderEliminarM.
Oh Sofia, deixaste-me a chorar... :) e que bem que te/vos deve ter sabido esse abraço.
ResponderEliminarEu e tu nunca nos relacionámos muito de perto, embora tenhamos passado muito tempo juntas. Ao fim e ao cabo, tive pena que não te tivesse conhecido melhor, que não tivéssemos sido mais próximas. Mas vivemos sempre, queiramos ou não, constrangidos pelo tempo e pelas circunstâncias.
ResponderEliminarCruzei-me hoje com o teu blogue, por acaso, e comovi-me. Relembrei-me que és um ser humano mesmo muito especial.
Que Deus abençoe sempre a tua vida e a tua família.
Beijinhos :)
Que lindo;) emocionei me
ResponderEliminarA maior prova superada foi este teu relato. Obrigada por partilhares e mostrares o quanto nós perdemos por adiarmos o mais simples que a vida nos oferece. Maria José
ResponderEliminarQue lindo texto Sofia :) também tenho uma relação um pouco cerimoniosa mas dos 3 irmãos sou a que tenho uma relação mais próxima por sermos muito parecidos. A situação que relatas fez me pensar que um dia posso ser eu nessa situação, e nunca me tinha ocorrido... Como se ele ficasse sempre como eu o conheço. E devo confessar que deve ser um pouco constrangedor.
ResponderEliminarBeijinhos querida
Deixaste-me emocionada. Fico feliz por ti, conseguiste algo que eu ainda não consegui. Um grande beijinho.
ResponderEliminarFiquei com um nó na garganta... Revejo o que se passou comigo recentemente. Bjinho :D
ResponderEliminarvivemos atarefados com pormenores. de vez em quando acordamos para uma realidade diferente. por vezes mais crua, mas - pelo menos aparentemente - mais verdadeira.
ResponderEliminaras melhoras do pai. e que a nova relação se torne ainda mais forte, apesar das consequências das relações fortes... mas - dizem - a vida é feita apenas do relacionamento humano. o resto... são os tais pormenores.
lindo o teu texto, sofia. acredita que eu tenho pena de não ter tido tempo para cuidar do meu pai...
ResponderEliminar:)